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Archive for the ‘Uncategorized’ Category


Economia e Poder – Como bilionários produziram guerras e recessões econômicas – Grupo Bildeberg

Neste 20 de março, morreu, aos 101 anos, o bilionário americano David Rockefeller, ex-presidente do Chase Manhattan Corp e patriarca de uma das mais famosas e influentes dinastias americanas.

davidNo livro, Política, Ideologia e Conspirações – de Gary Allen e Larry Abraham( Faro Editorial), os autores denunciam diversos crimes mundiais, como crises financeiras e guerras, patrocinadas pelas famílias mais influentes do mundo, em especial Os Rockfeller, citando diretamente tanto David quanto seu irmão, Nelson. Este, impopular para ser Presidente, fez algo melhor, passou a controlar Nixon.

Os irmãos participaram ativamente do grupo Bildeberg, que visava construir ( e comandar) uma nova ordem social no mundo.Tal grupo uniu esforços das elites de poder da Europa e Estados Unidos. David era o seu principal representante nos EUA.

A obra explica, em detalhes, porque todo banqueiro se diz socialista e como intervêm em questões críticas e criam disputas entre diferentes grupos políticos, mas ganhando sempre, independente de quem vença cada jogo.

política ideologia e manipulação paginas rockfeller_Página_1

política ideologia e manipulação paginas rockfeller_Página_2

Abaixo, trecho do livro (páginas 133 e 134):

A base da propaganda comunista é, desde a década de 1920, a promessa de destruir os Rockefeller e outros super‑ricos. Contudo, descobrimos que desde os anos 1920 os Rockefeller estão empenhados na construção da força dos soviéticos. Faz sentido? Se um criminoso vaga pelas ruas gritando a plenos pulmões que matará o João Silva assim que

tiver uma arma e você descobrir que o João Silva está às escondidas dando armas ao criminoso, só há duas possibilidades. Ou o João Silva é um idiota ou toda a gritaria é mera encenação, e secretamente o criminoso trabalha para Silva. Os Rockefeller não são idiotas.

Enquanto David controla a ponta financeira da dinastia, Nelson controla a política. Nelson gostaria de ser presidente dos Estados Unidos, mas, infelizmente para ele, seu nome é inaceitável para a vasta maioria da base do seu próprio partido. Depois de ser presidente, a melhor coisa do mundo é controlar o presidente. Supõe‑se que Nelson Rockefeller e Richard Nixon são ferrenhos adversários políticos. Em certo sentido, eles de fato são, mas

isso não impede que Rockefeller imponha seu domínio sobre Nixon. Na competição entre os dois pela nomeação do Partido Republicano em 1968, Rockefeller naturalmente teria preferido ganhar o prêmio, mas a despeito de quem vencesse, ele controlaria o mais alto posto oficial do país.

Convém lembrar que no meio da elaboração da plataforma republicana em 1960, Nixon saiu de repente de Chicago e foi a Nova York para encontrar‑se com Nelson Rockefeller no que Barry Goldwater classificou de “a Munique do Partido Republicano”. Não havia nenhuma razão política para que Nixon rastejasse para Rockefeller. A convenção estava costurada a seu favor. Qual o sentido, então?

Em The Making of the President, 1960, Theodore White observa que Nixon aceitou todas as condições que Rockefeller impôs para o encontro, inclusive as provisões de que “Nixon em pessoa telefonasse a Rockefeller pedindo uma reunião; que eles se encontrassem no apartamento de Rockefeller… que a reunião fosse secreta e noticiada posteriormente à imprensa por meio de comunicado do governador, não de Nixon; que se anunciasse claramente que ela ocorrera a pedido do vice‑presidente; que o relato das políticas resultantes da reunião fosse longo, detalhado e inclusivo, não uma nota sumária”.

A reunião produziu o infame Acordo da Quinta Avenida, no qual a plataforma republicana foi jogada no lixo e substituída pelos planos socialistas de Rockefeller. Em sua edição de 25 de julho de 1960, o Wall Street Journal comentou: “… um pequeno grupo de conservadores dentro do partido… é empurrado para as margens… Os 14 pontos são de fato totalmente

de esquerda; eles compreendem uma plataforma de muitas maneiras semelhante à do Partido Democrata e estão muito distantes daquilo que os conservadores acreditam que o Partido Republicano deve defender…”

Como coloca Theodore White: “Jamais a guinada esquerdista quadrienal dos moderados do Partido havia sido tão abertamente dramatizada quanto foi pelo Acordo da Quinta Avenida. Qualquer honra que tivessem conseguido obter pelos serviços prestados à comissão da plataforma do partido fora arrasada. Uma reunião de uma única noite entre os dois homens em um milionário tríplex… estava prestes a indeferi‑los; eles foram desmascarados como palhaços para o mundo inteiro ver.”

Sem dúvida, a história completa por trás do que aconteceu no apartamento de Rockefeller jamais será conhecida. Podemos apenas fazer uma suposição razoável à luz dos eventos subsequentes. Mas o óbvio é que desde aquele momento Nixon passou a estar na órbita de Rockefeller.

Depois de perder para Kennedy por um fio de cabelo, Nixon, contra sua vontade, e a pedido (ou ordem) de Rockefeller, entrou na disputa para governador da Califórnia e perdeu. (Para mais detalhes, veja o livro Richard Nixon: The Man Behind The Mask, de Gary Allen.) Depois de perder para Pat Brown na corrida pelo governo da Califórnia em 1962, Nixon foi universalmente consignado à lata de lixo da política.

Ele deixou de exercer a advocacia na Califórnia e foi para Nova York, onde se tornou vizinho de Nelson Rockefeller, seu suposto arqui-inimigo, em um apartamento cujo aluguel era de 100 mil dólares por ano, em um prédio de propriedade de Rockefeller. Depois, Nixon foi trabalhar no escritório de advocacia do advogado pessoal de Rockefeller,

John Mitchell, e nos seis anos seguintes passou a maior parte do tempo viajando pelo mundo, primeiro reconstruindo sua reputação política e depois fazendo campanha pela nomeação republicana de 1968. Ao mesmo tempo, de acordo com a sua própria declaração de bens, seu patrimônio líquido foi multiplicado muitas vezes, e ele se tornou bastante rico. Nelson Rockefeller (e seus colegas do establishment esquerdista do Leste), que ajudou a tornar Nixon aceitável para os conservadores ao aparentar se opor a ele, resgatou Nixon do ostracismo político e o fez presidente dos Estados Unidos. Não faz sentido que Nixon, o homem de ambição voraz cuja carreira havia chegado ao fundo do poço, tenha precisado fazer alguns acordos para alcançar sua meta? E ele não terá contraído enormes dívidas políticas em troca de ser feito presidente pelo establishment esquerdista do Leste?

 

Compre:

Livraria Saraiva: http://migre.me/wl9Kj

Livraria da Folha: http://migre.me/wl9J5

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Curso:

 

writers dreamPúblico alvo: Autores, editores, pareceristas e tradutores de livros.

Este é o curso que sobre a vida prática do trabalho de edição. Ele se divide em dois caminhos:  uma parte teórica voltada para a edição e seus processos e uma parte sobre a experiência prática, com orientações sobre redação, criação e edição de textos.

Trata-se de um check list de fases de edição de um texto. Para o autor é algo que ele precisa atentar antes de submeter à apreciação de editoras.  Para o editor de texto e tradutor, será uma ferramenta de análise e verificação da qualidade, uma reflexão dos limites da intervenção num texto, bem como do que precisa ser trabalhado.

O curso também será útil para quem realiza análises críticas de textos, abordando aspectos e opções sobre o que pode e deve ser revisto pelo editor de textos ou pelo próprio escritor. Trata-se de algo tão importante para melhora do oficio do escritor, ampliação do olhar crítico sobre seu próprio texto, o que consequentemente aumenta suas reais possibilidades de contratação e de leitores.

Qual é a proposta?

Para um autor ele pode indicar como um livro será lido, que erros são mais observados que outros;  para um editor, tradutor, revisor ou preparador de textos ele orienta o olhar sobre as questões mais importantes, aquelas que podem e precisam ser resolvidas.

Inclui exercícios práticos em aula, para demonstrar algumas técnicas acerca da edição de um livro, sempre sob o olhar de um editor.

 

Alguns tópicos

As 5 fases de edição de um texto – Check list

Os Erros mais comuns na ficção

Parte prática e parte teórica – Estudo de cases – textos publicados e não publicados

Divididos em grupos, serão distribuídos textos para os participantes identificarem os problemas mais graves. E resolução em conjunto.

 

Enquanto a Escrita deve priorizar          

Criação – Incluir texto, informações, ideias – Apresentar algo – Registrar – Revisar – Sentir-se intimamente envolvido – Ser um produto imediato, ingênuo, intuitivo – Fazer uma bagunça.

A Edição deve priorizar

Crítica – Adicionar e remover textos – Melhorar – Registrar – Revisar – Colocar-se razoavelmente objetivo – Burilar, refinar – Arrumar, organizar

 

 

Professor

pedroPedro Almeida

Editor – Publisher da Faro Editorial – Curador do Prêmio Jabuti

Jornalista e Professor de Literatura, com curso de extensão em Marketing pela Universidade de Berkeley. Experiência profissional de 24 anos atuando na gestão de editoras de pequeno e médio porte e de Publisher em editoras de grande porte, nas áreas de ficção, não-ficção e desenvolvimento pessoal, tendo realizado diversos projetos nacionais e internacionais.

Atuou como editor para as seguintes editoras: Madras; Landmark; W11 editores; Editora Francis, Ediouro, Novo Conceito, Leya, Lafonte e Saraiva. E como editor associado para Arx; Caramelo e Planeta. Escreve regularmente para o Publishnews, coluna: Leia antes de ver, sobre o mercado editorial, é um dos curadores do Prêmio Jabuti e Publisher e sócio da Faro Editorial.

 

Serviço:

Edição em Brasilia

Data:  5 de maio, sexta, das 09 às 18hs. Valor do Investimento: 350,00

Inclui: coffee breaks

Local: Auditório do Colégio Inei Sigma (SHIS QI 7 CJ 17, Lago Sul, Brasília / DF)

Mais informações: Elaine Cambraia. Email: elainecambraia17@gmail.com

Realização: Casa de Autores de Brasilia

Apoio: Publishnews e Câmara Brasileira do Livro

 

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Kate Winslet, David Kross

Kate Winslet, David Kross, no filme O Leitor – 2008.

Passados 1 mês da divulgação do relatório Retratos da Leitura 2015, decidi escrever também uma análise do quadro da leitura, pensando na premissa: Sim, agora temos os dados. Mas o que fazer com eles? Preferi olhar para os não leitores para discutir o que se pode fazer para incluí-los. Como formar gente que gosta de literatura?

Antes de tratar do tema preciso fazer uma correção. Contrariando o muito do que se disse em artigos, não houve  crescimento algum do número total de leitores. Na mesma pesquisa, Retratos da Leitura, realizada em 2007, 55% eram o número de brasileiros leitores; em 2015 esse número foi para 57%, o que significa zero, numa uma margem de erro de dois pontos percentuais. Os dados que alguns utilizaram para indicar crescimento foi na comparação com 2011. Vejamos:  eram 55% de leitores em 2007; 50% em 2011 e 57% em 2015.  Então, não, não houve crescimento por mais que se tente colar essa imagem de que as políticas foram acertadas. Sem que isso fique bastante claro vamos patinar nas políticas públicas para os próximos anos.

Eu me prendi em “ler” algumas telas focadas mais em quem não lê, e por quais motivos, para que cada grupo: pais, professores, editores, editoras e até gestores públicos possam pensar também em como criar políticas de inclusão dessas pessoas, porque não temos políticas realmente competentes do poder público e não devemos depender apenas dele. Não por nossos descendentes, por nosso mercado e mesmo para deixar algum legado.

Um resumo rápido desse recorte pode ser dito assim: 67% de todos os entrevistados disseram que ninguém os influenciou a gostar de literatura. 72% afirmaram que entendem que a leitura traz conhecimento e crescimento pessoal e profissional, e quase 60% de todas as pessoas tem como principal motivação para pegar num livro o prazer, entretenimento.

Tenho uma premissa comigo apreendida nos primeiros anos atuando como jornalista: se uma sentença está clara, mas muita gente não percebe a mensagem logo de cara quer dizer que não está clara o suficiente. Não para a compreensão dos fatos na velocidade da leitura é realizada hoje.

Se 2/3 das pessoas dizem que ninguém os influenciou pode indicar que:

1º. Os adultos não são bons influenciadores. Isto porque seguramente é na infância e adolescência que se adquire o gosto/hábito de ler. Esse tópico rende um bom debate de ideias e propostas.  Desde que a atividade de leitura possa ser mais bem trabalhada em atividades de grupo e por aí vai. Conversei sobre este tópico com Mariana Rolier, Editora do grupo Rocco e ela citou o seguinte: Os adultos não são bons influenciadores porque, 1o ou indicam livros adultos para jovens, principalmente na escola e/ou 2º possuem síndrome de “tio do gibi”: se apropriam do conhecimento e não permitem novas audiências, interpretações e visões, pois a superioridade lhe traz satisfação. Cabem aí os pseudo intelectuais, escritores decadentes, editores arrogantes. Em geral associados à frase: “Este público não é o meu”.

2º que pais, professores, figuras públicas não transmitem com seus exemplos e vida a mensagem de que chegaram lá por causa do estudo e dos livros. Por mais que acreditemos, não há uma mensagem forte em nossa sociedade do valor da literatura, que fixe tanto nas pessoas de forma a provocar uma revolução cultural. As campanhas para a leitura precisam dessa direção. Falar não adianta, como veremos a seguir.

72% dos entrevistados afirmaram que entendem que a leitura traz conhecimento e crescimento pessoal e profissional. Podemos extrair dessas respostas que temos um caráter utilitário associado à Literatura. Todos parecem entender a sua importância e utilidade. Mas o que essa premissa indica?  A falta prazer!

Como levar a ideia de prazer à atividade de leitura? Não. Não será transformando-a num big brother ou levando-a um show de Hip Hop. Construir a ideia de prazer, prazer real, associado ao interesse da infância, não da leitura que orgulham adultos (pais e professores), pode ser um bom caminho.

Sabem aqueles programas reality shows que ajudam pais a educar crianças? E outros, a donos a educar cachorros?  No fundo, a origem do problema sempre está no comportamento dos adultos.  E o princípio vale aqui. Se as crianças não leem é por causa de alguma estratégia errada promovida pelos adultos. Não vamos culpar as crianças. Estamos fazendo algo muito errado.

Prazer pela leitura 2Vejam como uma coisa está relacionada à outra. Todos reconhecem o valor da leitura para uma vida melhor, mas isto não é suficiente para que elas consigam tempo e interesse para ler. Quantas vezes vemos um adulto que tem plena consciência de onde começa o erro que o leva a repetir equívocos e mesmo com essa ciência não o faz mudar o próximo passo? Pense:  gente que não pode com bebida, com gordura ou cigarro. A ideia da saúde não é suficiente. Se adultos não conseguem mudar, diante de uma mensagem clara do que faz bem para eles no presente, porque devemos esperar que crianças passem a ler ao saber que isto será bom para o seu futuro?

Então, precisamos trocar a mensagem. Não, não devemos dizer que a leitura não é boa, mas, se preciso, vamos mentir, enganar, fazer o que for necessário* para convencer as crianças que o valor não está no que elas podem alcançar socialmente com a leitura. Vamos dizer que vai ser divertido, que vão rir, que vão se emocionar como se estivessem numa novela de época de Jane Austen (ou das 6h), ou que vão chorar com o drama de um personagem na vida real, ou que vão ter o desafio de desvendar o assassino antes do capítulo 6, ou que vão descobrir como as pessoas públicas mentem nos pequenos sinais entendendo um pouco de filosofia ou da linguagem do corpo. Enfim, os caminhos podem ser diversos, mas temos de priorizar o prazer.

*aqui é uma piada.

E por fim, casando com a resposta anterior, se quase 60% de todas as pessoas tem como principal motivação para pegar num livro o prazer, entretenimento, então vamos prestar a atenção nele. O prazer tem de ser o foco para formar leitores.

 

Mas para isso há um impedimento:

Cerca de 90% dos não leitores indicam uma dificuldade em ler: acham complexo, ler cansa, preferem outras atividades ou não encontram tempo. Há duas questões centrais, a meu ver, nestas respostas:

1º – O objetivo – O que se diz comumente para as pessoas que se pode alcançar com a leitura é mais uma frase de efeito que uma imagem concreta do que ela pode promover. As pessoas sabem repetir numa pesquisa sobre o valor dela, mas não acreditam de fato. Pelo menos não o suficiente para investir na atividade, insistir, achar que vale mesmo perder noites, dormir menos, largar a TV ou a ida ao cinema para ver o último lançamento que todo mundo está comentando para ler um livro que poucas pessoas estão falando.

E quem está comentando alguma coisa na imprensa sobre um livro? Quantos fóruns nas redes sociais, nos Jornais, nas TVs, portais de notícias e rádios estão discutindo o destino, a escolha feita por um personagem?  É preciso encher de literatura a vida das pessoas.  Se por um lado precisamos trabalhar na mensagem do prazer (e aqui refiro-me a todas as campanhas das entidades do livro e Minc, MEC, etc.) por outro precisamos que os meios de difusão da literatura pautem esses temas e incluam em seus canais espaço que estimulem esses caracteres da Literatura.

2º – e, o prazer da leitura para muita gente talvez esteja relacionado não apenas por falta de oferta de gêneros e tipos de livros oferecidos, mas também pela imensa dificuldade cognitiva. Assim, a atividade não está associada a um prazer. Essa é uma tarefa especialmente da Educação. Há algumas décadas a Educação deixou de investir no uso da Literatura como ferramenta na formação dos estudantes. Estivemos focados mais no estudo da língua. Conversei sobre o assunto com a Mestre em Literatura pela Unicamp, Emília Amaral, que tem mais de uma dezena de livros voltados à formação de novos leitores e que é  uma das maiores especialistas no assunto, porque tem um trabalho focado na ferramente prática. Ele me contou o que aconteceu com o ensino de Literatura e eu resumi: “A partir dos anos de 1970 desenvolveu-se um processo sócio-histórico-cultural por muitos denominado “pós-modernismo”. Sua principal marca consistiu na busca de anulação das diferenças, no sentido de democratizar a sociedade, abrindo espaço para os excluídos. Estes, os excluídos, chegaram ao centro do debate, trazendo suas linguagens, hábitos, culturas. A instituição escolar, por exemplo, relativizou a norma-padrão da linguagem. ”

Se para a inclusão de pessoas esse mecanismo trouxe algo positivo, para o estudo da Literatura, não.  Esse relativismo fez com que o estudo da Literatura passasse a acontecer sob forma de citações, extratos, fragmentos, pois o foco principal do estudo era agora a Linguagem.  E, por consequência, ela, a Literatura como obra, como estudo do texto completo, pouco a pouco foi perdendo a importância no ensino até quase desaparecer.

Como podemos formar leitores que praticamente leem apenas trechos de obras?

Aqui eliminou-se o prazer pela história. Focamos os alunos na análise de palavras, contextos culturais a partir de extratos. Donde pode-se imaginar que o problema está na base.  Salvo raríssimos professores, por iniciativa própria, por esforço pessoal, os demais seguem essa premissa que excluiu o prazer pela Literatura das salas de aula. Basta ver nas  questões dos vestibulares, na parte de Literatura, que está tudo ligado à linguagem ou à crítica social. Ninguém fala de beleza, das paisagens, das emoções ou do prazer.  Se queremos mais leitores, esta é uma discussão que precisa ser feita.

Hoje vou pedir aos leitores algo mais.  Claro, as críticas e comentários são muito bem-vindos, pois com eles posso saber o que pensam outras pessoas e corrigir meus equívocos. Mas gostaria que os leitores pudessem aproveitar esse espaço de comentários para citar cases, histórias de sucesso na formação dos leitores e dar sugestões. Assim, todos aprendemos uns com os outros.

Ps:  Quem quiser ver as telas em que me baseei e as somatórias para os números aqui apresentados elas seguem abaixo.
1ª  tela.

pessoas que influenciaram

67% de todos os entrevistados disseram que ninguém os influenciou a gostar de literatura.

Tenho uma premissa comigo apreendida nos primeiros anos atuando como jornalista: se uma sentença está clara, mas muita gente não percebe a mensagem logo de cara quer dizer que não está clara o suficiente. Não para a compreensão dos fatos na velocidade da leitura é realizada hoje.

Se 67% das pessoas dizem que ninguém os influenciou pode indicar que:

1º Os adultos não são bons influenciadores. Isto porque seguramente é na infância e adolescência que se adquire o hábito de ler. Esse tópico rende um bom debate de ideias e propostas.  Desde que a atividade de leitura possa ser mais bem trabalhada em grupo e por aí vai.

2º Que pais, professores, figuras públicas não transmitem com seus exemplos e vida a mensagem de que chegaram lá por causa do estudo e dos livros. Por mais que acreditemos, não há uma mensagem forte em nossa sociedade do valor da literatura, que fixe tanto nas pessoas de forma a provocar uma revolução cultural. As campanhas para a leitura precisam dessa direção. Falar não adianta, como veremos a seguir.

 

o que a leitura significa

Aqui, todos podiam dar duas algumas respostas. Totalizei 173%, então considerei que 17,3% aqui equivale a 10% dos respostas. Então entre 72% e 76%  das respostas afirmam  que entendem que a Leitura traz conhecimento e crescimento pessoal e profissional. Podemos extrair dessas respostas que temos um caráter utilitário associado à Literatura. Todos parecem entender a sua importância e utilidade. Mas o que essa premissa indica é?  A falta prazer.
3ª tela

principal motivação

Esta parte confirma a afirmativa anterior. Quase 60% de todas as pessoas tem como principal motivação para pegar num livro o prazer, entretenimento ( três primeiros tópicos somados). Os outros 24% citam exigência escolar, profissional, atualização. Então, vamos prestar a atenção nele. Novamente o prazer é o foco da nossa questão para tentar atrair leitores.
4ª Tela

razao para não ter lido

Cerca de 90% dos não leitores indicam uma dificuldade em ler: acham complexo, ler cansa, preferem outras atividades ou não encontram tempo.

 

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imagem artigoArticulistas sempre estão em busca de algum tema, e às vezes, procurando por um, acabam se deparando com outro. Repetidamente, até as descobertas cientificas, acontecem deste jeito. Este aqui nasceu assim: pensava em escrever sobre um tema e o desenrolar dele me levou a fazer novas perguntas, e acabei descobrindo outras coisas que estavam fora do escopo original. E, a despeito de atuar no mercado editorial por tanto tempo, elas ainda me pegaram de surpresa. Talvez façam o mesmo com você.

O tema que abordo hoje é a falta de uma cultura da leitura. Para isso, escolho para a reflexão a forma como tem-se criado “campanhas para a promoção da leitura”.

As poucas vezes que surgem essas campanhas de incentivo à leitura, seja no rádio, revistas ou na TV, quase sempre acontece uma variação sobre o mesmo tema. Primeiramente escolhem um influenciador. São chamados para capitaneá-la alguém do meio artístico num destes grupos:

  • a)Um artista consagrado de TV ou de teatro;
  • b)Um autor de livros que circula nos principais cadernos de cultura;
  • c)Um apresentador de TV de programa cultural/jornalístico.

Pense você em três personagens que pode ter visto encampando estas campanhas nos itens a, b e c.

1, 2, 3…

Antes de pedir uma reflexão, deixe-me lembrar sobre qual era a proposta: promover o hábito de leitura para quem não o tem. E daí, pergunto: estes personagens podem ser um exemplo a ser seguido pelo público-alvo? Será que são o melhor elo de comunicação com o público que NÃO lê. (Porque é uma campanha de incentivo à leitura, não para reafirmar o valor da literatura para quem já lê, certo?)

Provavelmente você chegará a conclusão de que, por mais credibilidade que tal personalidade tenha, ela não se comunica com, por exemplo, crianças de escola pública de periferia.

Quem seria então um bom influenciador?

Quando é preciso fazer uma escolha de representante para estrelar uma grande campanha de um produto são feitos estudos meticulosos, caríssimas pesquisas de opinião com o público-alvo. Isso não o teremos, afinal, trata-se de livro, veículo continuamente desprestigiado neste país e que não vai trazer retorno financeiro direto a empresas e raros foram os governos a tentar tratar a educação com alguma seriedade. Então, vou arriscar um palpite que me parece óbvio: o caminho seria partir para os heróis desse público hoje: cantores populares, jogadores de futebol, jovens ídolos.

Pedro Almeida defende que heróis do povo deveriam encabeçar campanhas de incentivo à leitura

Vimos tentando por décadas usar um ator consagrado de teatro e levá-lo para convencer as pessoas que não leem e nem vão ao teatro de que a leitura é um caminho de ascensão social, de dignidade, respeito. É uma tentativa cheia de boas intenções, mas carregada equívocos e talvez muito idealizado. Ora, se buscamos incentivar quem não lê por que se oferece o modelo clássico? Porque não oferecer o novo?

Imagine trocar um Paulo Autran ou Serginho Groisman por Neymar? Ou Cid Moreira por Anitta ou McGuinê? Vejo daqui uma torcida de nariz, mas continue.

Se estamos tentando “pescar” quem não lê, quem traria melhor repercussão? Não se aborreça ainda. Se você está lendo este artigo é porque não precisa de incentivo novo para ler.

Temos um problema sério no país. Os atuais grandes heróis não leem, não leram e não são relacionados no imaginário popular com uma sólida formação cultural. Os ídolos do futebol parecem, aos olhos de todos nós, que nunca precisaram estudar; os cantores mais populares ou sertanejos de sucesso parecem que abandonaram a escola cedo e esta foi a melhor escolha das suas vidas. Tivemos um presidente que não se envergonhava em dizer que não gostava de ler e não houve indignação suficiente da sociedade que o fizesse se retratar. Não à toa a cultura da ostentação se alastra e sustenta ideia de que não é preciso saber/estudar para alcançar sucesso, riqueza, realização material. Diante disso, a estratégia precisa mudar. Precisamos trazer estes heróis para o nosso lado.

Quantos garotos e garotas acham hoje que ler traz algo de útil para as suas vidas? Que a leitura é fundamental para que ele possa sair da perpétua situação de miséria? Sério. Não falo aqui de idealização ou discurso pronto que se você ligar uma câmera numa escola pública ou assistir a um episódio do canal Futura e fizer a pergunta, qualquer criança vai tentar dizer que sim, que ler é importante. Mas não é disso que estamos falando, de dialéticas, mas de prática, e todos os dados de leitura e educação desmontam essa farsa.

Nossa sociedade vive com a crença de que mais vale investir em jogos de azar, como a Mega-Sena ou num possível talento para futebol ou música que em qualquer outro que dependa de escola, estudo e leitura.

Imagine a continuidade dessa crença muito multiplicada pela juventude: primeiro a mais pobre e depois seguindo nas classes C e B. O resultado é um quadro desolador hoje e para as próximas décadas: jovens, sejam de qualquer classe, culturalmente pobres, perdidos, sem muita perspectiva, com ideias que não reúnem causa e consequência e, por isso, acreditando numa ideia de anarquia geral.

Ah. De onde você tirou essa ideia toda?

Foi de muita observação, mas vou contar dois casos, um deles, bem recente, que ilustram essa ideia.

No ano 2000, uma novela da Globo de Manoel Carlos, Laços de família, transmitida em horário nobre, o personagem central Tony Ramos era o dono de uma livraria e apresentava frequentemente livros durante as cenas. Quem trabalhava no mercado editorial naquela época sabe que cada livro que aparecia na tela acabava por vender muito, alguns foram parar nas listas de mais vendidos sem nunca a ter frequentado antes. E foi observado outro fenômeno: as livrarias passaram a entrar na vida das pessoas. Muitas, que nunca tinham pisado numa livraria antes, mesmo as de shopping, passaram a fazer. As pessoas consideravam que aquele era um chão que não pertencia a gente mais simples e a novela quebrou esse paradigma.

Outro, mais recente.

Em 2014, na época da Copa do Mundo no Brasil — apesar de todos os problemas na finalização das obras e no fato de que uma boa parte da população desacreditava na força do evento –, o Brasil entrou em festa logo que a Copa começou. Muita gente que estava indiferente sentiu que perdeu a oportunidade de festejar como sempre fez, e até lamentou não ter entrado no clima e comprado ingressos. Nossa Seleção estampava desde campanhas de marcas internacionais de cuecas a celulares. Ainda havia confiança na seleção Brasileira, então Neymar estava em alta e o casal Bruna Marquezine e Neymar estavam entre as maiores celebridades da época.

E nesse clima de festa, uma postagem publicada no Twitter sobre um livro é tido como o disparador do sucesso do livro de Isabela Freitas, Não se apega, não. Isso aconteceu no dia 01/07/2014, postado por Bruna Marquezine.

Recordem a cronologia: o tweet ocorreu logo depois de uma das vitórias brasileiras mais sofridas, contra o Chile, nos pênaltis por 3×2, nas oitavas de final. Na semana seguinte, o livro passa a dobrar as suas vendas. Pela lista do PublishNews, na semana anterior ao post, o livro vendeu pouco mais de 2,2 mil exemplares (http://www.publishnews.com.br/ranking/semanal/5/2014/7/4/0/0). Na semana seguinte, esse número saltou para quase 4,5 mil (http://www.publishnews.com.br/ranking/semanal/5/2014/7/11/0/0). E depois disso, entrou num círculo positivo de vendas que se seguiu por meses e tornou a autora uma das revelações do ano. Afirmar que o sucesso aconteceu principalmente por conta do Twitter ninguém pode, mas no mínimo fez uma blogueira teen emergir para as páginas de portais de notícias nacionais e ser citada nas reportagens da época.

Pergunto então: um personagem popular, identificado com o público menos leitor não seria mais eficiente numa campanha para a promoção de NOVOS leitores?

Se um tweet ou uma simples aparição de um livro numa novela teve esse poder, imagine uma campanha em que um ídolo sertanejo revele seu interesse por leitura ou lamente a falta de incentivo na infância, as dificuldades que teve por conta da falta de leitura, etc. Não tenho dúvidas que, se convidados, muitos topariam participar de algo assim.

E esse não é um fenômeno restrito à cultura brasileira: Oprah Winfrey, apresentadora de TV mais bem paga dos EUA por muitos anos, que tem uma história e imagem pessoal relacionada com ascensão social – teve uma infância muito pobre, foi vitima contínua de abusos e conseguiu através da dedicação aos estudos dar uma guinada em seu trágico destino – tornou-se capaz de transformar qualquer livro que indicasse num grande sucesso. Mark Zuckerberg, criador do Facebook, a ferramenta social que tem revolucionado nosso mundo, sobretudo entre as pessoas mais jovens, também tem feito indicações de livros. Ele é um ídolo para uma parcela enorme de pessoas entre 20 e 30 anos. E cada vez que apresenta uma obra, milhões de seus seguidores acabam por levar o livro a vender números impensáveis. Em todo o mundo.

Esse é um convite para que paremos de chover no molhado e realmente invistamos numa cultura de leitura. O hábito de ler é como aprender a andar de bicicleta, quem é “contaminado” por ele mantêm a leitura como um valor perene. E reconhece tudo o que ela lhe pode trazer para a vida pessoal e profissional.

Vale, contudo, um alerta, para o qual utilizo o dístico da bandeira paulista: “Non ducor, duco”. Não serei conduzido, conduzo. Algumas pessoas, com as melhores intenções, confundem muitas vezes o processo, o fazem de modo invertido e acabam por achar que levar a cultura de livro à população que não lê é produzir material sobre as culturas de periferia.

Veja como é comum encontrar propostas como uma biografia de uma moradora de rua, de um projeto social, um dicionário da periferia e nossa sociedade achar que se está criando uma cultura de livro, que está democratizando a literatura, que estamos incluindo estas pessoas. Eu acredito que não (ou muito pouco). Estes projetos servem para lembrar a classe média de que a miséria existe, de que a periferia existe, mas produz muito pouco por sua formação cultural. São alertas para a sociedade culta, leitora, sobre determinada exclusão, como o fez Ferrez em Capão redondo ou Gilberto Dimenstein em Esmeralda – Porque não dancei, que traz o duro retrato da vida de uma menina de rua.

O que seria realmente novo e precisa ser feito é voltarmos a valorizar a leitura, o caráter formador da cultura, oferecer bibliotecas de qualidade com livros novos, que as pessoas queiram ler, que estejam presentes nas livrarias. Isso tudo parece muito distante, não? Talvez seja algo incendiário: basta uma boa iniciativa de bom alcance para mostrar o seu poder, e a reação em cadeia possa começar. Essa ideia toda, de trazer o popular para convencer do valor da leitura, não parece óbvia?

Critique, comente, divulgue e execute. Não deve haver limites para promover a leitura.

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capaPara o tema de hoje proponho um retorno às Humanidades e vou me apoiar em dois filmes:  Dançando no Escuro, 2000, de Lars Von Trier, com a cantora Bjork e Catherine Deneuve; e Detachment (Indiferença), que foi traduzido como O (Professor) Substituto, 2011, de Tony Kaye, com Adrian Brody, James Caan, Lucy Liu entre outros ótimos atores.

Penso que de uma ou outra forma, quase todo mundo se pergunta como passamos a viver num mundo em que dados e “aparências” valem mais que a palavra. Há um conceito antigo que se perdeu e nossa sociedade: A Palavra de alguém era como honra, tinha valor, carregava o crédito de uma vida. Servia para fechar negócios, assumir dívidas e ou compromissos. Então, isso foi se perdendo pouco a pouco até que contratos com multas, índices e juros tomaram o lugar da honra, e isso foi, pelo que me lembro, o início da nossa grande decadência.

Dançando no Escuro conta a história de uma moça muito simples, com uma doendancando no escuro bjorkça hereditária que irá levá-la a cegueira, ainda jovem.  Para evitar que seu filho tenha o mesmo destino, ela junta todo o dinheiro de uma vida a fim de pagar por uma cirurgia preventiva. No entanto, muita coisa acontece e acaba acusada de assassinato. Todos percebem que ela nunca teria condições de cometer o crime, mas como estão apoiados em evidencias aceitas pelo sistema judicial (era quem estava no local com malandro morto, restava como culpada). E ficamos todos boquiabertos, irritados, Detachmenttristes ao final do filme porque reconhecemos que tudo o que acontece ali na ficção é um reflexo de um sistema falido de julgamento binário, burocrático e que se repete o tempo todo em nossas vidas.

Nas últimas décadas de grande avanço tecnológico temos substituído inescrupulosamente a razão por dados, a verdade por uma cadeia linear de provas, aceitando como efeitos colaterais todas as injustiças que se cometem para fazer o sistema de dados funcionar. E se isso acontece nas empresas fundadas sobre as áreas de Humanas, como eLRA_detachment_1ditoras, escolas, universidades, pode-se imaginar o que ocorre com as demais. O que tenho visto é que aceitamos subjugar as Ciências Humanas às Exatas cotidianamente por diversos motivos e maneiras. Vejamos:

Sobre os dados e estatísticas, já aprendemos que podem ser manipulados para tantos lados que você pode pode obter respostas opostas tendo os mesmos números em mãos. Agora mesmo leio que a escola pública, onde estudou o aluno que tirou o 1º lugar do ENEM 2014, ficou quase na posição 600 dentro do Ranking total de escolas. Poderia exaltar a escola ou puni-la, bastando nos fixar nas extremidades desses dados.  Numa análise que diriam superficial, sem fazer entrevistas, mas apoiado no conhecimento de Humanas, eu poderia supor, quase com absoluta certeza, que o mérito não foi da escola, mas do aluno.  Mas é provável que você, mesmo concordando comigo, ainda prefira que se instaure uma auditoria da Price Waterhouse ou da Deloitte para que se possa dar uma opinião ou mesmo tomar uma decisão a respeito. E onde isso acaba? Somos assolados por tanta informação todos os minutos que depois de um tempo esquecemos desse fato, de ter pedido a confirmação dos dados, da análise, da auditoria, e o tema perde a necessidade e permanece indefinido.

Confiamos tantos em dados, índices e estatísticas que nos esquecemos de que eles são utilizados o tempo todo para nos fazer consumir, desejar, tomar um partido, enfim, nunca estão imunes de alguma intervenção.

É que confundimos dados com Matemática, e esta armadilha nos faz pensar que são exatos. Mas dados, mesmo quando verdadeiros, são burros. Pode-se justificar atos de toda a espécie, mas sobretudo tirar do ser humano a capacidade de analisar, de decidir, de discutir. A ferramenta mais imoral de um discurso pode ser um dado não verificado posto numa discussão como fato, já revelava Schopenhauer numa das 38 estratégias para vencer qualquer debate.

Como o foco deste artigo é o mercado editorial, vou trazer alguns exemplos desta área, mas que qualquer pessoa poderá enxergar também em outras áreas de atuação. Este mercado, que é fundado sobre áreas de humanas: letras, história, filosofia, artes, psicologia, línguas e literaturas tem se rendido a processos burocráticos, planilhas, índices, de tal forma que a arte, a humanidade desse segmento, acaba muitas vezes desprezada em benefício de um automatismo administrativo.

Não estou me referindo aqui aos processos administrativos, sistemas de controles de toda ordem para lidar com a gestão do negócio, mas criticando quando estes sistemas são priorizados em aspectos puramente artísticos, filosóficos, editoriais, por exemplo. Exemplos: departamentos como Jurídico e Financeiro atuam em editoras, livrarias e distribuidoras muitas vezes criando empecilhos para processo quando criam contratos sem maleabilidade; sistemas de comercialização e documentação fiscal sem flexibilidade; ou a mudança de acordos no meio do caminho sobre relações de confiança, entre autor e editora: é aquela parte que não se resolve por contrato. De tanto observar a repetição dessas cenas, tive de forjar um princípio em minha cabeça, que ouvi pela primeira vez do editor Quartim de Moraes, para demonstrar aos demais setores como reestabelecer o conceito dentro de uma empresa editorial: Manter o objetivo em foco e qualquer coisa, por mínima que seja, que venha atrapalhar esta finalidade, deve ser reconduzida ao seu lugar.

Em uma editora, o objetivo maior é o livro; em uma empresa de calçados, o calçado; em um restaurante, comida e atendimento, não o sistema de gestão, de contratos, de pagamentos. Numa livraria, quem importa é o público que a procura.  O conceito não é novo, mas raramente é posto em prática.  Lembro que na Livraria Cultura, onde trabalhei décadas atrás, qualquer funcionário, não importando se fosse um gerente de operações ou assistente de marketing, ao ser interpelado por um cliente sobre um livro se tornava imediatamente um vendedor, um atendente.  No entanto, o que se formou nos dias atuais são setores, dentro de empresas, que buscam se tornar importantes em si, em detrimento de toda a finalidade da companhia. E a isso credito essa supervalorização dos sistemas, dos processos.

Esse conceito surgiu visando trazer uma organização para a gestão de empresas mas me parece que creditamos as burocracias um valor exagerado. E nesse campo, vejo que um dos motivos é que, como são subjetivas as decisões ligadas às questões artísticas, humanas, subjetivas (dão trabalho e precisa-se refletir), tomar uma decisão por aspectos esquemáticos nos livram da culpa, pois as responsabilidades podem ser diluídas. Os equívocos baseados em planilhas geram uma investigação que, na maioria das vezes, vai revelar alguma série de procedimentos errados e uma falta de autonomia, e não podendo responsabilizar o sistema burocrático, ninguém será responsabilizado ( e mantido). Essa burocracia atua, por exemplo, no ambiente universitário, de modo cruel. Quem não se recorda de ter professores, com mestrados e doutorados brilhantes mas incapazes de transmitir conhecimento? É que o MEC obriga as universidades a terem 1/3 de seus professores com Mestrado e Doutorado. Não seria mais adequado exigir que soubessem ensinar? De novo, o poder máximo da Educação pautando suas decisões por números burros. Não foi por acaso que uma pesquisa da Revista Nature revelou semana passada que nossa produção científica é das mais medíocres do mundo.

Lembro de ter ido a uma reunião com um autores que representei e iríamos fechar uma série de livros numa editora. Para a reunião foi convidado um profissional de marketing.  Cada um falou um pouco, e quando ele abriu a boca para opinar sobre o conteúdo do projeto disse apenas: “Já vejo a chamada na Folha de São Paulo:  Grupo tal agora em  2.0”.  Enfim, ele não estava nem interessado no projeto, mas em criar um entorno para o seu trabalho, que certamente demandaria muitos recursos, bem como uma cara campanha. E isso acontece o tempo todo. Acontece porque continuamos a ouvir propostas como essas e consideramos relevantes, porque certamente seria uma notícia que iria circular, porque teria muito mais gente da área de cultura interessada em falar do tal projeto 2.0, que de um projeto altamente educativo e cultural bem realizado.

Perdemos o sentido para o que é o realmente importante: Um título ou uma didática? Uma chamada de marketing ou um produto de qualidade? Índices ou aproveitamento? Vendemos nossas almas a um mundo de dados cegos e que elegemos como guia para tudo. É que fechamos os olhos para o “jogo de cena” que se faz, e depois reclamamos dele.

Penso que o mundo seria um pouco melhor se parássemos de dar tanta atenção aos números, aos dados, às tecnologias. Valorizamos tanto isso que frequentemente somos manipulados. Num livro em que trabalhei para a Editora Saraiva, uma biografia sobre Henry Ford, um jornalista equiparava Ford a Steve Jobs. O autor discordou. E demonstrou que a criação do carro trouxe aspectos muito mais revolucionários, porque com ele veio a ideia de encurtar distancias (e tudo isso tem a ver com o processo de globalização, acesso à informação, turismo e consumo). Isso revolucionou desde o acesso a alimentos de todo o mundo à ideia de que podemos comprar um casaco da China ou ter acesso rápido a medicamentos para tratar do Ebola. Algo muito superior que um aparelho que nos tirou toda a atenção do mundo real e criou em nossa sociedade uma dependência por informação, jogos, acessos e contatos por redes sociais. Comparar um com outro não tem qualquer ponto de equilíbrio, e imagino que, no futuro breve, vamos descobrir o buraco que nos enfiamos ao adotar o smartphone, que vem formando gerações cada vez mais incapazes de trânsito social.

Veja este curto link, do filme O Substituto. Uma cena que tem a ver com a reflexão que proponho aqui. O filme conta a história de um professor substituto tendo de lidar com uma classe muito difícil. Perto dele, o Mentes Perigosas estrelado por Michelle Pfeifer se torna uma bobagem. Na cena aqui, o professor aproveita o xingamento que um menino faz (e o palavrão não foi legendado) para demonstrar como nossa Cultura reafirma mentiras, que nós sabemos que são mentiras, mas aceitamos.  https://www.youtube.com/watch?v=9D2G7EWqmBQ

Que em 2015 valorizemos mais as Ciências Humanas. Que possamos reassumir a discussão todas as coisas sob um aspecto que leve em conta o que sentimos de fato, e não seguindo um roteiro. Senão estaremos nos tornando reféns dos nossos processos robóticos, escravos das máquinas, algo “profetizado” por Isaac Asimov na sua série de contos condensada no livro, Eu, robô. #maishumanasmenosexatas

Se tiver interesse em assistir ao segundo filme completo, o que recomendo, não encontrei onde comprar, mas é fácil encontrar links em todos os idiomas no youtube. Se quiser comentar, escreva logo abaixo.

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No artigo de hoje proponho um paralelo das múltiplas inteligências e habilidades com o interesse pelas literaturas.  É importante observar que há um mundo de leitores e interesses que não são atendidos com a existência de um conceito de qualidade na Literatura, que contempla apenas um tópico das 9 diferentes inteligências. Quem sabe haja aí um excelente espaço para formarmos uma massa incrível de novos e perenes leitores?

Semanas atrás, enquanto ministrava um curso para formação de publishers, abrimos uma discussão a respeito de como formar de leitores. Um participante, que atua numa ONG que cria e organiza bibliotecas populares, persistiu numa questão bastante recorrente no mercado editorial: “O que garante que uma criança, jovem ou adulto que lê uma obra de puro entretenimento vá evoluir para uma literatura de melhor qualidade?”.

Nesse momento se acendeu uma luz vermelha imaginária na sala. Era para mim como se todos estivessem imóveis e eu assistindo a uma cena da inquisição. Foram segundos, mas lembrei naquela hora as repetidas vezes em que ouvi a mesma questão, sob a crença de que há um percurso necessário para se fazer com a Literatura, de que há um tipo de evolução, de que ler livros cada vez mais complexos é um ótimo caminho. Não é!  E vou mostrar porquê.

Duas situações podem exemplificar bem isso. A primeira delas recebi dias atrás, num vídeo que vale muito a pena assistir e tomou o lugar hoje do filme que costumo comentar. Acontecia um importante Congresso de Ciência nos EUA, com a presença de grandes nomes. O principal deles, Neil DeGrasse, um cientista negro, que responde a seguinte pergunta feita com cinismo: Por quê há tão poucas mulheres na ciência? Assista.

http://www.youtube.com/watch?v=azH49eq9rcg

Neil-deGrasse-Tyson-Screenshot

Agora saiba que quem fez a pergunta foi Larry Summers, ex-Presidente da Harvard University e Secretário do tesouro no Governo Clinton (e também do Obama). Me diga agora se toda a cultura, todos os livros que essa pessoa leu serviu para alguma coisa? A pergunta de Larry, que presidiu uma das mais importantes universidades do mundo, representa um argumento simplista numa defesa que apenas reforça a sua classe: a de homem, branco e de elite.  Poderia dizer que, provavelmente, seu pensamento é racista, misógino e deve acreditar na supremacia de um grupo sobre o outro, como algum tipo de seleção da natureza, sem levar em conta outros aspectos sociais. Mas tipos como esse, em que a larga cultura não cria um pensamento abrangente, há muitos.

A segunda situação foi aqui mesmo no Brasil. Recentemente, um filósofo muito conhecido, que figura nas listas de mais vendidos soltou a frase: “Sempre achei que mulheres feias deveriam ser proibidas pela saúde pública!” Quando li, fui atrás da informação para ver se não era falsa, se não era algum tipo de trolagem.  Mas não era. Foi feita de modo jocoso, e seu autor teve a coragem de defende-la. Não tenho dúvidas de que este Sr. é muito culto. Leu os grandes clássicos, mas me parece preso a um tipo de conceituação de relações sociais bem equivocada ou desigual. Sempre que ouço barbaridades assim me pergunto: De que adianta tanta cultura se não faz bom uso? Uma pessoa simples teria muito mais respeito pelos outros.

Vejam que estamos lidando com o “topo do topo” da pirâmide cultural. Imagine o meio.

Exemplos assim existem aos montes. As pessoas, todas, exercem suas opiniões com base em sua fonte de informação, interesse, experiência. E raramente se abrem para ouvir uma opinião que contradiga a sua. Sair de seu próprio meio cultural, estudar o outro lado, me parece um exercício inteligente que todos deveriam experimentar e cabe em qualquer situação.

Que evolução a literatura sofisticada promove?

Esse senso de que existe um processo evolutivo na obtenção de cultura literária não tem um valor para o mundo. Tem um valor para si próprio. Uma literatura sofisticada, por exemplo, pode servir para o leitor dialogar com suas próprias digressões pessoais, lidar com nossas questões filosóficas, deliciar-se na vivência e beleza promovida pela pena do autor, experimentar outros ares, olhares e espaços. O que isso promove diretamente para o mundo em termos de avanços? NADA! Queremos avanços ou algo que promova a evolução humana, então devemos investir em pesquisas nas Ciências: Física, Química, Biologia… E as Sociais, claro. A progressão numa literatura mais literária não vai promover nenhum mundo melhor, nenhuma pessoa melhor do que ela mesma queira ser, mesmo lendo ao pé da letra, a Bíblia, o Alcorão ou livros Agnósticos.

Formar leitores sem interferir no que irão ler

Então, quando ouço essa ideia persistente, de que só se deve investir na formação de leitores utilizando literaturas e autores que o mercado gosta de desprezar se houver uma garantia de que a pessoa, depois, partirá para literaturas mais “nobres”, fico pensando como o senso comum consolidou essa ideia autoritária amplamente difundida entre nós.

Se a evolução produz mentalidades como as desses dois senhores, melhor a ignorância. E não se trata de discordar de opinião política sobre a postura deles, mas sobre a visão segregacionista que eles mantêm, cada um a seu modo, instrumentalizados por larga cultura.

Há, claro, muita gente culturalmente ignorante, perversa e corrupta pelo mundo. A educação, a formação cultural, sem dúvidas, é o caminho das grandes civilizações. Os avanços em ciências e tecnologias acontecem concomitantemente com o desenvolvimento da língua, linguagem e seus processos. No entanto, o que precisa ser feito para promover a Literatura é dar o acesso, a experiência primária. O que vai acontecer depois disso não é controlado, dirigido e nem deve ser uma preocupação fortemente direcionada porque só irá atrair quem estiver intimamente alinhado a ela.

Como uma pessoa que já tem acesso à literatura experimenta um livro ou autor?  Recomendação! Algo que leu ou ouviu sobre tal autor e ele mesmo procura. Se ficar encantado, lê tudo. Caso contrário, vai atrás de outro. Promover a Literatura para quem já gosta é importante, mas se a pessoa já gosta de ler podemos dizer que apostar apenas nisso é como chover no molhado. E não é exatamente isso o que nossa cultura de livros faz? Falar, divulgar e valorizar livros e obras mais literárias que não atendem a um público pouco-leitor? Criar novos leitores, não apenas crianças, mas adultos que não leem, me parece ser uma tarefa mais importante. Especialmente, porque aumenta a massa de leitores, e terá certamente reflexo na educação, na profissionalização e na cidadania. Quão seria melhor que nosso processo de Educação fosse feito pela Literatura.

Motivações que tornam uma pessoa próxima dos livros

Uma pessoa começa a gostar de ler depois que é apresentada aos livros, e tem uma oferta com liberdade para escolher aquilo com o que mais se identifica. Há leitores que buscam aventura, outros, respostas para questões filosóficas da vida. Uns, conselhos, outros gostam das curiosidades. Ainda não conheço estudos que identifiquem a grande variedade de motivações que tornam alguém leitor. Há no entanto, um aspecto de nossa cultura de leitura, que identifica como relevante apenas a erudição do texto lido. Canso de ouvir gente que lê sempre, mas quando pergunto o que está lendo tenta citar um clássico (que efetivamente não o leu ou leu sem gostar, porque você percebe que fala do livro sem brilho ou sem profundidade) ou fala em tom baixo, com uma frase como que se desculpando por gostar de O pequeno príncipe ou o romance best-seller do momento.  O que esta cultura da erudição promove?  Vergonha de seu hábito de leitura e isso não é motivador. Uma importante pesquisa recente indicou que o principal motivo apontado pelos leitores como a vantagem dos e-readers era que ninguém sabia de fato o que eles estavam lendo quando o faziam em público.

Diferentes inteligências, diferentes interesses, diferentes literaturas.
É importante observar que há um mundo de leitores e interesses que não são atendidos pela simples existência de um conceito de qualidade na Literatura, a tal da erudição. O mundo já reconhece a existência de 9 diferentes tipos de inteligências. Veja a ilustração abaixo:

inteliHá séculos encaixamos as pessoas nas vocações para as mais diferentes áreas, ainda contidas nas designações humanas, exatas, biológicas e suas derivações. No entanto, na Literatura ainda mantemos um conceito de valor que abarca apenas uma das mais de 15 áreas dentro das ciências humanas. Se observarmos, esse conceito de valor literário inclui efetivamente a Linguística, acrescentando, dependendo do caso, a Filosofia e a História.

Outra classificação, esta mais recente, sofre da mesma falta de reflexão. Uma mesmo livro pode ser encaixado como obra de não ficção ou de auto ajuda, dependendo da época em que foi escrito. Vários livros de Filosofia, são considerados Não ficção, se forem clássicos, como Sócrates, Schopenhauer (como a arte de ter razão), etc. Mas se o mesmo tema de Filosofia for escrito por um autor hoje, será considerado autoajuda. É hora de começarmos a pensar diferente. Esses conceitos estão obsoletos e não fazem nenhum sentido. Pode parecer outro assunto o que estou dizendo, mas faz muita diferença para um autor, leitor e crítico lidar com um segmento ou outro. Por um certamente há respeito, por outro, nem sempre. E o motivo é ignorância, porque são a mesma coisa.

A Educação pela Literatura

Promover literatura para quem não tem o hábito cria um novo leitor que pode ser leitor para sempre.  Se ele vai continuar a ler; ampliar o interesse por textos mais literários, ninguém sabe e nem deveria ser uma preocupação central. E se você concordar que uma pessoa com pensamento mais complexo, sofisticado e culto não é mais feliz ou humana que outras, porque esse pensamento de “evoluir” na leitura? Vamos deixar as pessoas serem felizes lendo por décadas Nora Roberts e Mary Higgins Clark. E sempre haverá os que preferem a poesia parnasiana, os ensaios de Eric Hobsbawm. O que vai acontecer com estes?  Seguindo sua própria inclinação e interesses, provavelmente lerão, o que podemos chamar no bom sentido, mais do mesmo – autores semelhantes aos que já gostam em linha de pensamento, seja de entretenimento, arte ou filosofia. Se olhar desse ponto de vista, o mais do mesmo, independe se trata-se de uma obra política com orientação marxista ou o romance romântico.

Sempre que se levantam propostas sobre priorização do trabalho para criar novos leitores algumas pessoas com larga formação se sentem pessoalmente ofendidas, como se priorizar um público fosse uma crítica pessoal à formação mais culta. Não se trata disso. A formação cultural de maior envergadura e o gosto por textos de arte não precisam de grandes defensores, elas são o topo de sua arte. Fomentar o surgimento de leitores é o caminho para fazer crescer também esse topo e, para isso, vale repensar meios, formas e conteúdo. O que proponho aqui, caro leitor, é um diálogo com suas crenças. Penso que é preciso estar disposto a ver e a aprender a todo momento, sair do lugar confortável do mundo culto em que nós nos encontramos hoje e dar o direito de outros grupos, antes sem condições até de ler, a ler o que querem. Leitura é sempre boa e nossa Educação seria muito melhor se promovida por uma leitura sem controle.

Se quiser escrever algum comentário, será um prazer recebê-lo, pois aprendo sempre com visões de áreas diversas. Escreva logo abaixo.

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O filme

que trago hoje foi lançado em 2012, mas pouca gente assistiu. Baseia-se num livro do escritor paquistanês Moshin Hamid e foi levado para as telas pela diretora indiana Mira Nair e tem Kiefer Sutterland como um dos protagonistas. Escolhido para abrir o festival de Veneza em 2012, alguns disseram que fora por motivos políticos. Para mim ele tem várias qualidades, mas a melhor é mostrar como os fundamentalismos nascem e prosperam em todos os lados. O filme conta a história de um paquistanês que decidiu viver o sonho americano. Mudou-se para os EUA, alçou um voo muito rápido, até que alguns fatos o levaram rever seu plano. Ele acabara de se tornar sócio de uma firma de reestruturação de empresas, então a empresa é contratada por um companhia de comunicação que precisava enxugar custos. A ele caberia cortar cargos e salários de uma tradicional, advinhem… EDITORA. Rsrsrs Ele, que estava tentando se manter firme naquele propósito de vencer na vida, vê ali os fundamentos de sua vontade de inicial postos à prova com relação à sua origem. Numa outra ponta, de volta ao Paquistão, começa a lecionar numa universidade. Suas ideias políticas atraem os estudantes e acaba por se tornar uma liderança natural entre os jovens. Logo, líderes do movimento islâmico fundamentalista tentam cooptá-lo para suas linhas de comando, mas ele gentilmente recusa. Vê-se então diante de um impasse: dois movimentos contrários entre si, ambos fazendo seu proselitismo para angariar simpatia e, sob o menor sinal de recusa, nosso protagonista é tratado como adversário de ambos. O título ficaria mais claro se chamasse O relutante ao fundamentalismo, mas perderia a poesia.

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No artigo anterior do Publishnews tratei do tema: Por que gêneros menos literários e seus autores ficam de fora dos grandes eventos de literatura? Hoje vou sair da pergunta para propor uma forma de como pode ser feito. E é importante abrir aspas aqui porque ainda há certa confusão. Literatura são escritos em prosa ou verso, de qualquer área. Por isso chamamos ora de literatura acadêmica, inglesa, médica, botânica, de auto ajuda. Literário é quando a arte de escrever, o domínio da forma é tão ou mais relevante que o conteúdo. Em geral é onde se encontram quase todas as obras poéticas e muitos romances, mas pode ser utilizada em qualquer área. Hilda Hilst escreveu um livro erótico literário; alguns biógrafos foram mais literários em suas narrativas, como Capote. Enfim, não dá para separar uma coisa da outra, pois o aspecto literário pode estar presente em qualquer livro, em qualquer parte, de modo que fazer uma divisão sempre se cai num aspecto subjetivo. E não acho que o grande público leitor escolha obras por serem mais ou menos literárias. Pelos números de vendas, buscam o contrário.

Há algum tempo tenho escrito sobre como o Mercado editorial pode aprender com os leitores. Venho comentando sobre os direcionamentos que todos os veículos de cultura dão como indicação sobre o que é bom e merece ser valorizado, tornando excluídos gêneros e autores que, hoje, mais do que nunca, são os grandes financiadores das editoras, livrarias, gráficas e eventos culturais. Sendo o cerne dos questionamentos que propus no artigo anterior, sempre faço antes de cada novo artigo, saio conversando com amigos, colegas e profissionais diversos do mercado editorial para ouvir outras opiniões. Assim, o que publico, são também frutos de generosas conversas com gente de todas as áreas deste mercado. Comecei a fazer perguntas, e colhi respostas de algumas pessoas que tem atuado na organização de eventos e discutido alternativas para incluir novos talentos nos grandes eventos culturais.

Mariana Teixeira, Agente Literária, que atua no mercado editorial há mais de uma década e bagagem de mais 15 anos de TV Globo e Futura, fez uma boa pergunta em sua página no Facebook e gerou interessantes comentários. Porque sempre levam os mesmos nomes para os eventos? Ela trabalha com diversos autores, alguns de textos mais literários, outros mais comerciais, ficção e não ficção, então percebe como a entrada de novos talentos em eventos culturais é sempre muito difícil. Cristiane Costa, Jornalista e Editora, com larga experiência em curadoria em eventos apontou o problema. “Porque os patrocinadores dos eventos reclamam quando há nomes que eles não conhecem e logo perguntam: mas e o Gullar, não vai chamar?” E completou. “E o pior, é que o coitado do crítico literário não saberia falar de outro autor se fosse convidado a falar em público.” E com Marisa Moura, agente literária e que idealizou e está à frente da coordenação literária da FLAQ, em Aquiraz, cidade que fica a 30 KM de Fortaleza, é uma das pessoas que tenta levar temas e autores diferentes ao evento. E sei que todos os que buscam diversificar nessa linha encontram as mesmas barreiras. E com diversificar não é apenas incluir eventos que hoje não existem, mas trazer novos nomes, resgatar outros esquecidos, enfim, que todas as feiras que ocorram num ano não fiquem desfilando apenas os mesmos nomes.

A situação não é simples. Muitos organizadores não conseguem conceber um evento que não tenha apenas os grandes e esperados nomes. Temos uma indústria, divulgadores, imprensa e público que cresceu lendo apenas autores de dois séculos atrás até os modernistas e não conhecem nada além deles; e com uma crença de que boa literatura é ficção, poesia, ou as obras em que o exercício do idioma se transforma em arte. Isso é um tipo de fundamentalismo. E, ao fazer isso excluímos todos os gêneros onde a arte está na história, no conteúdo, na imaginação, na entrega do que é proposto, seja entretenimento, diversão, fantasia, interatividade, não importa. E se encontra abundantemente em todos os gêneros. Mas esse fundamentalismo não acontece com os “outros”. Somos todos nós, eu, você, o amigo, o professor, o editor, o jornalista, o bibliotecário, o reitor, o designer de moda… Todos nós crescemos e mantemos essa ideia de há mais qualidade quando algo é exclusivo, para um grupo restrito e isso pode fazer até sentido para algumas formas de arte quando são peças únicas, como quadro, esculturas; mas em se tratando de promoção dos livros e literatura, que precisa multiplicar um obra em milhares para torná-la viável, esse conceito é um atraso.

Acredito que a qualidade só possa ser medida por quem consome. E, isto também ouvi há 10 anos de um reconhecido editor, que fundou a mais importante revista de Cultura que já tivemos, e me fez virar crente da premissa: um livro que vende muito não pode ser ruim, porque cumpriu o seu dever, de se comunicar com muitos outros. A exceção, eu faria, são aqueles em que as pessoas não compram porque gostam, mas apenas por motivos partidários ou de fé, onde a escolha está de algum modo subtraída.

Mas vamos a parte prática: quando proponho que eventos culturais como Bienais e feiras do livro possam atender a outros públicos, que não reprisem sempre os mesmos nomes e temas, o que pode ser feito? Primeiro penso que temos de dar opções: a cadeia de divulgação cultural precisa ser apoiada. Ela sozinha não consegue mudar o rumo desse barco.

Pesquisando sobre os eventos oficiais das bienais, vi logo de cara uma chamada que dá bem a medida deste problema: No Salão de Idéias estarão… “Zuenir Ventura, Ana Maria Machado, Edney Silvestre, Lya Luft e muita gente bacana.” Chamada do jornal O Globo sobre a Bienal do RJ 2013. Fico pensando como o mesmo editor do caderno chamaria um evento popular no meio da festa do livro: se fosse na linha do que andou escrevendo Vargas Llosa diria: “A Barbárie invade a Bienal.” Ou “Festa literária se rende à indústria.” Como se os jornais e as revistas, para continuarem sendo lidos não tivessem se aproximado mais do público nos últimos dez anos.

Que tal, por exemplo, uma bienal ter uma mesa sobre os desafios da educação financeira? Ou A busca da espiritualidade segundo jung ou numa versão ecumênica? Ou sobre Literatura fantástica em que autores nacionais mostrem como tropicalizaram temas universais? Quais as vantagens, processos de criação, inspiração e transposição desses trabalhos? Ou ainda com uma mesa em que autoras de livros para meninas falem do que as motivou escrever. Ou porque decidiram escrever livros que tiram a carga fantasiosa dos Contos de Fadas? ou ainda, que reúna autores educadores, psicólogos ou terapeutas não para teorizar, ou para discursar sobre temas acadêmicos, mas para falar por temas: como se livrar da culpa; como se preparar para uma terapia; como enxergar os seus defeitos e aceitar os dos outros. É claro, para identificar esses novos caminhos, tem de estar por dentro dos fenômenos da literatura e sem um olhar desrespeitoso, como ocorreu quando a onda de eróticos surgiu: para mim, uma consequência de centenas de movimentos em que a mulher se deu ao direito de ver o sexo mais próximo do que sempre foi o direito do homem.

Já prevejo alguns risos nervosos de gente que pode achar os temas ridículos, sendo que são apenas caminhos para se trabalhar de modo diferente. Mas porque proponho isso? Porque o que se faz hoje exclui muita gente, e penso que estamos errados há muito tempo. O que penso que muitos gostariam de ver é criatividade em temas e autores nesses eventos de feiras do livros e Bienais. Há muitos temas que parecem teses de mestrado em eventos que deveriam ser populares. Há tempos sabemos que quem frequenta Bienais são as pessoas comuns. Grande parcela dos intelectuais frequentam saraus, lançamentos, rodas culturais de circuitos das grandes cidades.

Querem ver exemplos de como boa parte desses eventos ignoram a presença do grande público? Dois links que encontrei na net. Um da Bienal de SP e outra do RJ. Nesse recorte, em geral, eventos mais voltados para um leitor mais clássico, no RJ. Algumas propostas de comunicação com o grande público em SP, mas ambos, tem muito a melhorar. E volto a dizer para não parecer um apontar de dedos. Não é culpa de uma pessoa. Somos todos nós que alimentamos as mesmas expectativas e só queremos mais do mesmo. http://www.bienaldolivro.com.br/canal/?programacao-cultural/2278/cafe-literario/ E os temas das mesas encontrados aqui: A sabedoria entre mundos; A poesia do século XXI; Sabedoria, Riso, Sociedade; O traço e a escrita na produção do narrar; Obra de ficção como trabalho; Contato entre culturas: do choque ao afeto; …. E todo os restante continua na mesma pegada.

Na de São Paulo de 2012, com poucas tentativas populares, e algumas novidades boas, mas apenas voltadas para públicos específicos ligados a literatura, como atuantes e aspirantes a funções no mercado editorial. http://g1.globo.com/bienal-do-livro/sp/2012/noticia/2012/08/bienal-do-livro-de-sp-comeca-com-homenagem-jorge-amado.html

O que peço para observarem em ambos os eventos? Para quem não sabe, há dois tipos de eventos nas principais feiras do Livro: aqueles promovidos pela organização do evento, e para os quais são produzidas peças de comunicação diversas. São os eventos oficiais, que contam com toda a força de publicidade e são realizados nos espaços culturais de prestígio e acesso a todos os participantes. Os outros são de produção, custo, organização exclusivos das editoras. Livros vistos apenas como produtos Vamos dar exemplo de dois fenômenos das bienais: Livros de padres e literatura fantástica. Pergunto: porque os eventos oficiais não convidam os autores que mais vendem livros neste país para estes eventos? Porque os relegam a simples tardes de autógrafos, financiadas por suas editoras, mas em que não há espaço para exposição de idéias? Penso que associam que se um livro é popular não possui um tema a ser discutido. Assim, os grande levadores de gente para as Bienais ficam restritos rubricar livros, onde não há nenhuma oportunidade de interação intelectual com o público. Basicamente, acreditam que este é o lugar que lhes cabe. E, na verdade, as Bienais (e isso se estende a várias feiras importantes do livro pelo país) apenas segue com esses autores a repetição do que se realiza nas livrarias: filas de autógrafos intermináveis mas numa posição em que os autores não passam de celebridades, quase sem abrir a boca.

Porque há algo de errado nisso? Porque estamos tratando o público desses livros com desprezo. Porque quando não propomos uma integração entre a as pessoas e os livros, estamos dizendo várias coisas: que os livros não são bons o suficiente para promover uma conversa com os leitores; e que estes leitores não são um público de que devamos nos orgulhar da presença e participação. Para mim, estamos oferecendo apenas circo para estas pessoas que buscam ler. E impedindo que essa tentativa de começo, essa literatura que pode servir de acesso a outras, produza uma experiência que sobreviva a toda a sorte de distração que o mundo oferece.

Sugiro aos autores que gostariam de ser incluídos nesses eventos que se organizem com outros autores com propostas afins, proponham eventos para as Bienais e feiras, porque uma parte do problema é que muitos curadores são especializados numa área mais clássica e não conseguem sozinhos elaborar essas novidades. E façam o mesmo com as redes de livrarias. Estas, já estão à frente com belas iniciativas, e já produzem eventos populares com frequência atendendo a demanda deste enorme público. Vejo o futuro com otimismo. As iniciativas acontecem de ambos os lados, mas quanto mais cedo apoiarmos as iniciativas populares, mais forte nosso mercado cultural fica.

O mercado sempre dita as regras. Uma hora, se isso demorar a acontecer, esses levadores de gente começam a migrar das bienais para eventos exclusivos, e são os grandes eventos que vão perder uma boa injeção de público que hoje alimenta essas feiras. O que cada um pode fazer? Um começo é parar de perguntar: Não vai ter o Gullar?

Se quiser escrever algum comentário, será um prazer recebe-lo, pois aprendo sempre com visões de áreas diversas. Basta postar logo abaixo.

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Este artigo foi publicado em inicialmente em 15/01/2014 mas hoje, 19/03/2015, com a repetição da participação brasileira repetitiva na homenagem a nossa Literatura em Paris, o artigo se torna ainda muito atual. E é preciso fazer algo para tornar os eventos literários mais diversificados.

 

O assunto que mais repercutiu sobre a participação do Brasil como país convidado feira de Frankfurt de 2013 certamente foi o discurso de Luiz Ruffato. Pegou todos de surpresa, pois esperávamos que falasse de literatura, mas apresentou uma interminável lista de problemas sociais – situações em que o Brasil, no cenário mundial, corre pela liderança em questões de desigualdade, violência e outras mazelas.
Eu estava lá na abertura e posso dizer o sentimento que tive. Tão imediato que postei algo minutos depois na rede social. Vi então armar-se um batalhão de prós e contras ao tom do discurso, muito mais prós. E prós por vários motivos, que é o que convido os leitores a refletir. Trago aqui o que compreendi estar por trás desse posicionamento favorável ouvindo muita gente do mercado, e o que descobri me pareceu ter pouco a ver com o fato de que aquele evento tinha outro objetivo, ligado à divulgação do nosso idioma, da nossa cultura, do nosso país. E Cultura = Educação é o que pode trazer benefícios mais consistentes para lidar com todas desigualdades citadas lá e que ocorrem em nosso país.
Imediatamente após o discurso, Ziraldo pediu que não o aplaudissem, e depois declarou ao Estado de S. Paulo: “esse era um discurso para se fazer numa rodada de negociações de Doha”, referindo-se ao fato de que tratava-se do evento de abertura da maior feira do livro, com visibilidade do país homenageado para a grande imprensa mundial, e para os maiores editores e agentes de todo o mundo. Ele viu imediatamente uma enorme oportunidade desperdiçada de falar das especificidades de nossa literatura.
Ana Maria Machado, momentos depois, deu o recado. Não foi um texto de prêmio Nobel, mas foi muito competente, correto e oportuno. Foi de alguém que refletiu sobre o seu papel para nos representar e indicou caminhos para se pesquisar a Literatura produzida aqui, de modo que estrangeiros possam aprender a apreciá-la, sem se prender a modelos já consagrados em outros países.
Depois de ambos os discursos, vi uma parte mais ativista da comissão de autores brasileiros presentes no evento, aplaudindo de pé o discurso do Rufatto e ignorando o discurso de Ana Maria Machado. O que me pareceu? Uma repetição do que assisti nesses 20 anos trabalhando no mercado editorial em todo o tipo de editoras: que existe uma turma, absolutamente corporativista, que aplaude os seus e ignora os demais usando critérios de afinidade pessoal, sem qualquer vínculo com a obra. Depois percebi, ao comentar com amigos, autores e editores, uma defesa do discurso do escritor por muitos motivos: por todas as suas características de sua obra, de seu passado, de sua representatividade. Mas não era o ponto em discussão. Ali não era momento, a meu ver, para pensar unicamente em nas ideias pessoais, mas para representar a literatura brasileira. E falar da lista interminável de mazelas que existem por aqui não me pareceu tocante. Assisti à Nova Zelândia, Índia, China, Turquia como países homenageados pela Feira de Frankfurt em anos anteriores se portarem bem mais positivos em relação ao potencial da literatura de seu país. Ali era momento de falar para fora, mas falamos para dentro.
Um amigo rapidamente me apontou para um fato interessante: diante de uma lista enorme e triste de desgraças sentiu falta da palavra corrupção naquele discurso, o que nos parece ser motivo de tanta desigualdade social. Fui conferir… realmente não havia. Talvez porque essa era uma palavra-chave em 2013 e nos meses seguintes com a prisão de corruptos e aquele evento estava sendo viabilizado exatamente pelo atual governo e, dois deles, presentes no momento: Marta Suplicy(PT) e Michel Temer (PMDB). Não pareceu, portanto, algum esquecimento.
Acompanhei a repercussão do discurso nos jornais brasileiros e nas redes sociais, e a quase unanimidade dos leitores afirmaram que dizer aquilo, naquele evento, era a coisa certa. Mas é preciso ponderar. Para qualquer brasileiro, no nível de insatisfação e revolta com que estamos (e naquela época estávamos numa cotidiana onda de protestos), jogar merda no ventilador podia parecer a coisa certa. Muitos disseram que era uma oportunidade de usar o palco mundial para fazer repercutir aqui no Brasil os nossos problemas. Ledo engano. A lista de mazelas propalada pelo escritor não é desconhecida de ninguém no Brasil. Porque acham que falar dessa lista, num evento literário, iria ter uma ótima repercussão a ponto de promover reforma na estrutura corrupta deste país, onde políticos que ocupam os mais variados cargos mentem publicamente sem nenhum remorso e raramente algo lhes acontece? E onde achamos muito normal pessoas ou grupo político por quem simpatizamos não seja punido, apesar de crimes confirmados, apenas porque outros corruptos ainda não o foram, quando o ideal é que todos fossem em cana? Ah. Isso também é um outro tipo de corporativismo.
Vi ainda, nos apoiadores daquele discurso, pessoas que apoiam uníssono a pessoa do autor, sem refletir sobre a fala. Algo que aconteceu em todas as últimas décadas no Brasil com nossa crítica literária e que somente agora começa a mudar.
Mas tive ainda a oportunidade de verificar outra coisa. O efeito desse discurso não passou despercebido pela imprensa mundial: No domingo, último dia da feira, o jornal alemão, Die Zeit, estampou uma matéria de capa com a seguinte chamada:
 
“Os belos livros de aventura do outono e os vitais e melancólicos autores do Brasil, país convidado deste ano.” (traduzido por Regina Drumond a meu pedido)
O tom da chamada me chamou a atenção. Não somos mais um país alegre? Como nos tornamos um país do pessimismo? A nossa participação na feira do livro tinha conseguido produzir isso? Depois, alguns amigos que estiveram na coletiva encerramento do evento contaram-me que este foi o tom geral das perguntas da imprensa internacional. E não falavam só da literatura, mas também da música, e também do estande do Brasil, absolutamente minimalista, todo branco, algo que parecia mais caber numa exposição de bienal da arte de SP que para representar um pais tão colorido quanto o Brasil. Se não quiseram levar o Axé porque não levaram o frevo? Só Bossa nova não dá e remete a uma escolha de gosto, ou estou exagerando?
Agora vejam o Stand da Nova Zelândia, 2012, que mostrou sua natureza, seu Céu (porque era sempre noite quando na Alemanha era dia) e muito mais.
A Literatura que nos representa
Acho ótimo o Brasil quebrar preconceitos, surpreender os estrangeiros, mas não tirando uma marca de alegria e colocando nada ou tristeza no lugar. E se vamos falar de diferenças e questões sociais, que tal observar a nossa Literatura?
Antes de criticar, temos de fazer uma autocrítica sobre o próprio mercado editorial. Nossas escolhas sejam para a Flip, para nos representar em Frankfurt, para Bienais raramente escapam de duas vertentes conjugadas: alta literatura produzida no eixo RJ-SP e publicada por grandes casas. A diversidade de nossa literatura é bem maior. Apenas começamos a descobrir gêneros de entretenimento como policial, suspense, thriller, literatura feminina, culinária, fantasia etc. Não se trata de uma acusação a ninguém. Assim como as mazelas do discurso de abertura, quem atua no mercado editorial é também contribuinte, de alguma forma, do que acontece com a educação, com a leitura, com a divulgação do que é lançado, com os rumos de nossa literatura. Muitos dos que tiveram passado sofrido, que precisaram superar grandes dificuldades para ter acesso à educação e cultura, ao atingir um posto que poderiam promover mudanças, acha que é a hora de usufruir do posto. Nós, adultos, temos imensa vergonha de uma Literatura de Acesso, e de uma literatura de entretenimento. É como se, ao passar para outro nível de literatura, decidíssemos desprezar e criticar o popular, pois assim nos distanciamos publicamente dele. Esse é um comportamento humano que se repete continuamente, seja na sexualidade ou na esfera social. Quem critica ferozmente, esconde, pratica bullying, quer passar uma mensagem de distanciamento.
Outra coisa que vale a pena observar: se pegássemos a lista dos 70 autores que representaram o Brasil em Frankfurt quanto da população que consome livros no Brasil estaria representada? Não consigo pensar em mais de 25%, isso porque tinha Ziraldo lá.
Ano novo, vamos olhar adiante. Vamos acertar e errar muito, mas em erros novos. Temos pela frente nosso país como convidado de várias outras feiras: dentre elas Bologna e Londres. Há tempo para rever a nossa participação internacional de modo a promover a literatura brasileira e não apenas os autores que irão nos representar. E também surpreender o mundo com características de nossa literatura que, decididamente, não é tristeza nem melancolia.
Se quiser comentar, escreva logo abaixo.

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Uma carta de amor, anônima, é encontrada pela dona de uma livraria… e, ao terminar de ler, ela fica hipnotizada, como se aquela carta tivesse revolvido sentimentos que há muito estavam adormecidos…

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“Meu amor,

Você sabe o quanto sou apaixonado por você? Estou sonhando? Será que posso acordar? Perder o equilíbrio, pisar em falso … despedaçar meu coração?

Eu sei que estou apaixonado a cada vez que te vejo. E também quanto estou distante. Nenhum músculo se move. As folhas das árvores caem por qualquer brisa. O ar apenas existe. Eu fiq

uei totalmente apaixonado sem ter dado nenhum passo…

Você representa tudo o que seria errado, algo que eu deveria tentar esquecer, mas eu não ligo para esses pensamentos… pois só consigo pensar em estar contigo.

Quando estou perto de ti, sinto o roçar dos seus cabelos acariciando o meu rosto mesmo quando isso não acontece. Algumas vezes olho para você à distância, então corro para estar perto

 novamente. E quando eu calço os sapatos, descasco uma laranja, dirijo meu carro, ou a deitar a cada noite … eu sempre permaneço, seu”

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Em uma cidade na Nova Inglaterra, Helen (Kate Capshaw), a dona de uma livraria, encontra uma carta de amor anônima entre as almofadas do sofá. Helen acredita que a carta é destinada a ela e tenta descobrir seu autor, pensando em vários homens da cidade. Então inicia um affair com Johnny (Tom Everett Scott), um jovem empregado da livraria, mas acontece que Johnny leu a carta por acaso e pensa que foi Helen quem a escreveu para ele. Então essa carta passa de mãos em mãos e outras pessoas da cidade lêem, cada um achando que aquela carta foi escrita para si.

O filme, “the love letter”( a carta anônima, 1999), baseado no livro de Catlheen Schine, 1995 é o raro filme que agrada mais as pessoas que o livro. Tratado como uma comédia romântica, e contando com um casting especial ( Ellen De Generes; Tom Selleck), aquela bela carta de amor movimentou os solteiros, os que haviam desistido do amor e os que estavam em relacionamentos mornos da cidade. A carta sem destinatário, reacendeu a libido, as fantasias e deu coragem a homens e mulheres para seguir seus sentimentos.

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É com este filme que quero tratar o tema de hoje, cuja mensagem fala da maior força que um texto deve possuir: de fazer seu leitor sentir como se o texto fosse escrito para ele, cada um, individualmente.

Agora imagine a cena:

Uma mulher se muda para uma pequena cidade. Abre uma livraria, trazendo muitos dos seus livros preferidos, mas ninguém quer aqueles livros. Passam a destratá-la publicamente, e alguns moralistas promovem um boicote.  Então ela decide criar edições especiais de seus livros. Tão especiais que eram feitos quase que individualmente para cada pessoa. A mágica então acontece. Todos começam a comprá-los compulsivamente … cada um por seu próprio motivo.

Agora troque livro e livraria por chocolate, e temos aí o segundo filme que queria mostrar. Nele, a personagem vivida por Juliette Binoche, sendo culinarista atua como uma editora.  Ela chega na cidade e percebe que será difícil conseguir que a deixem seguir com sua vida e sua loja de doces.  Então começa a oferecer chocolates para cada um, descobrindo seus gostos, interesses, desejos. E como é bo

Imagema em reconhecer o que os outros querem, acerta. E a notícia corre, como num ato de mágica…

Esse é outro filme que vale a pena ser visto ou assistido novamente com esse olhar, de que a confeiteira está ali numa posição de editora, que é a de qualquer empresário que desenvolve, escolhe o produto que vai produzir, vender, pensando no universo de questões de seu possível público consumidor.  Então chegamos no tema da coluna.

O “dom” de escrever para os leitores

Uma coisa que tento visualizar nos livros que analiso é separar entre aqueles escritos para si, para os pares/críticos ou para os leitores.  O primeiro tem pouco público, geralmente a família; o segundo, um nicho; o terceiro, tem um número imenso de possíveis leitores. A diferença é sutil, muitas vezes difícil de ser identificada ou distinguida por um conjunto de características, mas depois de algum treino é possível entender aspectos comuns entre um tipo de texto dos outros.

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Creio que a origem desse problema – a direção do foco da leitura – , reside em nossa  formação cultural. Na infância, somos treinados desde pequenos a escrever para nosso avaliador, o professor/os pais. Quem não se lembra de ter escrito ou ouvido a declamação de redações premiadas, ainda que escritas na “voz” de criança falasse sobre conceitos de responsabilidade, paz mundial, fome na África, guerras, sustentabilidade, etc.  Temas que não faziam parte do universo cotidiano infantil, mas agradavam os professores e aos pais, pois falavam de temas de interesse que eles queriam que as crianças estivessem a par. Eu vivi um número enorme dessas redações, e nem me lembro se naquela fase achei que valia a pena escrever sobre temas de interesse mais pessoal, mas havia uma certeza: não era um caminho apreciado pelos adultos.  Uns 20 anos depois reencontrei algumas dessas redações. Eu as relia e sentia uma vergonha imensa, tanto que fui perdendo uma a uma com o passar dos anos. Eram coisas que não valiam guardar.

Textos campeões de cartas

Mas desde que comecei a trabalhar em editoras passei a prestar atenção naqueles autores que se tornavam os campeões de cartas. Venho colecionando esses cases há vários anos porque algumas coisas são de chamar a atenção, especialmente o fato de que aconteciam tanto em literatura quanto em não ficção, em autoajuda ou livros técnicos, sem distinção.  Ficava intrig

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ado sobre qual era o ponto.  O que fazia o leitor gostar tanto daquele texto, a ponto de tocá-lo tão pessoalmente, provocando uma escrita, uma carta de agradecimento à editora, o envio de um relato pessoal, um comentário feliz?

E outro aspecto ainda mais interessante para mim foi ver que alguns daqueles livros nem mesmo eram escritos exclusivamente pelo próprio autor.  Alguns tinham um redator profissional balizando a escrita, quase um ghost writer.

Ainda vi nesses campeões de feedbacks textos de escrita bastante simples, quase plana. Então percebi que a questão era ainda mais complexa, pois alguns dependiam da forma, outros do conteúdo, mas em geral, uma combinação incertamente equilibrada entre um aspecto e outro. Passei a chamar privadamente esses aspectos de alma.  Eram textos que possuíam uma, certamente.

Então parti para outra proposta da discussão, ainda mais complexa: o que produzia aquela qualidade tão rara e tão buscada nos textos?  Seria um dom? Um aprendizado especial? O formato do pensamento, do mundo interior, traduzido em palavras?  Um misto de tudo?

Eu não me sinto seguro em dizer, só sei quando enxergo. Nem todo livro em que vi esse “dom” se tornou sucesso, alguns foram sim, bem gigantescos, mas os que passaram despercebidos nas livrarias, porque para fazer grande sucesso não basta ser ótimo, pelo menos se tornaram long sellers. Suas vendas foram seguindo num boca a boca…  e isso levou a obra para algumas edições.

Quando penso em cada um deles e vejo a parte em comum só consigo enxergar uma falta de padrões, então não adianta por exemplo uma entrega total à produção do texto sem a entrega da alma.  E entregar a alma não requer técnica, uma análise metódica da própria escrita, mas do sentido que se quer com ela.  Do desejo e, sobretudo, da capacidade de oferecer ao outro uma experiência tão própria e vívida com foi consigo mesmo. É um processo como terapia. Não basta querer mudar a partir da compreensão do que se quer fazer, chegar. Tem de estar preparado! Tornar um texto pertencente ao outro é se colocar numa posição universal, sair do próprio lugar, tentar se afastar da posição central e oferecer tudo aquilo que gostaria que tivessem lhe oferecido, sem concessões. O que faz com que um livro assim não possa ser escrito numa tarde, num prazo curto, pois aí não se consegue essa reverberação toda, a compreensão global de todos  os elementos. A distância e maturação do pensamento se tornam necessárias. A posição de advogado do diabo, tentando extrair as vaidades, a autopromoção, a arrogância, coisas que não podem estar presentes de forma subliminar num texto que deve pertencer ao outro. E isso não significa que ele tenha de estar asséptico… não. Pode ser opinativo, forte, vigoroso sem ser autoritário.

Em minha experiência descobri que uma ideia ótima, realizada com muita simplicidade (textualmente) pode ser “consertada”, mas o oposto,  uma ideia elaborada com o mais perfeita combinação de recursos estilísticos, se for fraca, torna-se tediosa e impossível de recuperação.

Tendo mesmo acreditar que a escrita é um dom. Há formas de se burilar um dom, mas não de criá-lo. Cursos de leitura e escrita podem ajudar a melhorar a qualidade de quem sabe pintar bem as palavras, mas nunca de transformar radicalmente a qualidade dos textos de seus frequentadores. A sólida formação cultural oferece bagagem, conteúdo, informação, que pode ser utilizada de forma acumulativa num texto sem qualquer brilho e alguém com uma formação incrivelmente simples pode conseguir criar textos e histórias capazes de fixar nossa atenção, ainda que possam conter erros gramaticais e sua construção não possuir qualquer sofisticação. O aspecto democrático disso, prefiro ver assim, é que não há qualquer distinção de classe ou grau de instrução. Todo mundo já assistiu iletrados que são exímios contadores de histórias, não seria diferente na literatura. Felizmente há espaço para todos os tipos de escritores e o que cada um precisa é encontrar a sua voz, o gênero onde seu “dom” possa se manifestar.  Esse me parece o grande segredo.  Quando mais cedo uma pessoa encontra a sua voz literária, o seu tipo de escrita, seu tema, seu público, mais cedo ele vai sendo burilado.  São assim com os contadores de histórias, de piadas, os romancistas, os grandes repórteres, os memorialistas, blogueiros, cronistas…

Descobrindo seu próprio “gênero”, com esforço, cada um pode figurar entre os ótimos, os bons e os editores; estes últimos, diabos que privados do “dom”, tentam infernizar a vida dos seus autores, e muitas vezes, acabam ajudando-os.

Até a próxima coluna. Se quiserem fazer comentários, comente logo abaixo.

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